terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Aí solidão, solidão.

Na vida, chega um momento - e penso que ele é fatal - ao qual não é possível escapar, em que tudo é posto em causa: o casamento, os amigos, sobretudo os amigos do casal. Tudo menos a criança. A criança nunca é posta em dúvida. E essa dúvida cresce à sua volta. Essa dúvida, está só, é a da solidão. Nasce dela, da solidão. Podemos já nomear a palavra. Creio que há muita gente que não poderia suportar o que aqui digo, que fugiria. Talvez seja por essa razão que nem todos os homens são escritores. Sim. Essa é a diferença. Essa é a verdade. Mais nada. A dúvida é escrever. É, portanto, também, o escritor. E com o escritor todo o mundo escreve. É algo que sempre se soube.
Creio também que sem esta dúvida primeira do gesto em direcção à escrita não existe solidão. Nunca ninguém escreveu a duas vozes. Foi possível cantar a duas vozes, ou fazer música também, e jogar ténis, mas escrever, não. Nunca.

Marguerite Duras, in "Escrever"

2 comentários:

  1. Olá mano.
    Ainda bem que voltaste aos blogues.
    Noutro formato.Gosto mais deste.È mais abragente, mais pessoal também.
    Um blogue, mesmo que não sirva para mais nada, serve para nós próprios voltarmos lá sempre que quisermos para fazermos uma pequena viagem no tempo.Penso que passado algum tempo de termos um blogue seremos capazes de nos surpreedermos até a nós proprios.
    Força.

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  2. lindo!
    Quem tem capacidade de ler e entender estas palavras é, desde logo, um poeta!
    Gosto do blog, gosto de ti e da sensibilidade que é gigantesca
    Bj

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