domingo, 21 de junho de 2009

Quem tramou Chora?

20 Junho 2009 - 14h00

Coisas do circo
Quem tramou Chora?
Como líder da comissão de trabalhadores tem conseguido travar as reivindicações sem nexo.


De quando em vez há pessoas que me conseguem reconciliar com o Mundo (o mundo português) pela invulgaridade das suas intervenções, pela coerência dos seus propósitos, pela inteligência das suas acções. António Chora é uma dessas pessoas. Não o conheço pessoalmente, mas gostava, pelo muito que aprendi a considerá-lo na luta que trava na Autoeuropa à frente da Comissão de Trabalhadores.

Uma luta sempre no fio da navalha. De um lado a administração alemã que sabe que emprega 3000 pessoas directamente e que dinamiza mais de 8000 empregos indirectos. Do outro, os trabalhadores da empresa cientes dos seus méritos e da sua determinação. António Chora, com uma enorme lucidez e serenidade, fez recuar os anacrónicos sindicatos que temos no País e, como líder da Comissão de Trabalhadores, tem conseguido travar as reivindicações sem nexo.

António Chora tem sido sempre bem-sucedido provando à saciedade que a defesa dos interesses dos trabalhadores pode ser conciliada com a salvaguarda dos objectivos e propósitos da entidade empregadora, sem cartas na manga, sem hipocrisia, sem mentira, sem demagogia, sem jogos esdrúxulos. Desta vez, porém, António Chora foi ‘traído’.

Houve um pré-acordo entre a comissão de trabalhadores e a administração que ultrapassava todos os impasses na fábrica de Palmela. Esse pré-acordo estabelecia a redução do pagamento do trabalho extraordinário em seis sábados por ano. Levado a uma votação geral dos trabalhadores o pré-acordo foi chumbado.

Quem empurrou os trabalhadores para esse precipício? António Chora não foi. Ele disse, com imensa sabedoria, que os trabalhadores confundiram as propostas de mais flexibilidade laboral com perda de direitos adquiridos. Por força disso, acabaram as negociações e a administração vai ditar a sua sentença que pode ir do ‘lay-off’ à deslocalização da empresa.

Quase certo é também o despedimento de 250 funcionários contratados a prazo. Irresponsavelmente, a CGTP considerou acertada a decisão de chumbar o pré--acordo. Na próxima semana, a administração anunciará as medidas que vai tomar. Confesso que estou pessimista. Oxalá os trabalhadores não chorem. Nestas crises só o bom senso pode resolver as questões. O caminho escolhido foi outro. É preciso que cada um assuma as suas responsabilidades. A si, meu caro António Chora, que pena não ser você o líder da CGTP/Intersindical. Nessa central, ninguém aprendeu nada consigo e com a luta inteligente que travou até aqui.

Emídio Rangel, Jornalista

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